domingo, 4 de outubro de 2015

Mil Folhas de Tudo e Nada # 7 | mais do mesmo

... é que nem sei por onde começar a expressar aquilo que me vai na cabeça acerca destas eleições! Sinto-me indignada mas sobretudo estúpida! Estúpida porque não consigo compreender, como é que após 4 anos de tanta tanta austeridade, de tanta precariedade, de tanto retrocesso e, principalmente, de tanta gente a ir embora, os portugueses escolheram manter tudo da mesma forma. Será medo? Só pode ser... porque não acredito que sejamos assim tão idiotas ao ponto de não querer ou não conseguir ver aquilo que nos paira mesmo à frente dos olhos! Nada em Portugal está melhor, nada melhorou caramba. Não se pode usar o argumento do " ah, saímos da crise", quando o meio para lá chegar, foram as pessoas e a sua qualidade de vida! Preciso entrar em detalhes acerca de cada área do nosso país? É preciso falar da saúde, das esperas intermináveis nos hospitais, que não têm condições? Esses mesmos hospitais cheios de camas pelos corredores, onde os médicos e enfermeiros são obrigados a comprar luvas para poder trabalhar? Bem me parecia que não. É necessário falar no estado da educação em Portugal? Nas escolas sem condições físicas, na qualidade das refeições, no numero de alunos por turma, que por vezes ultrapassa os 30? É preciso relembrar todas as crianças cuja única refeição que têm por dia é a que a escola fornece? As crianças cujos pais lutam para conseguir pagar os manuais escolares, as que não têm o que comer, as que não têm um banho a cada dois dias que seja!? Vale a pena falar da cultura ou da segurança em Portugal? Não vale... não me venham dizer que estamos melhor quando basta olhar à volta para perceber que somos pobres! E após estes resultados, sou forçada a admitir que para além de sermos pobres nas carteiras, o somos também de espírito. Porque não temos colhões (em bom português) para tomar decisões e mudar o estado actual das coisas!
Muitas vezes nos meus vídeos faço alusão à adolescente cá de casa. Muita gente pensa que eu com 28 anos tenho já uma filha de 15. Quem não pensaria certo? Mas deixem que vos conte uma história. Há coisa de 3 anos os meus sogros, tal como tanta gente, foram forçados a abandonar o país. Sempre residiram em Portugal; tinham o seu próprio negócio e quando a crise estoirou tiveram de largar tudo e partir. Tiveram de deixar tudo aquilo que sempre conheceram e amavam para trás e partir rumo ao desconhecido. Foram para Angola, onde apesar de trabalharem na sua área, são mal pagos e tão explorados quanto eram em Portugal. Para trás ficou a família. Não fazia sentido levarem uma criança de 13 anos com eles e, nesse sentido, eu fui a primeira pessoa a sugerir que a adolescente ficasse comigo e com o irmão. E assim foi. Deixar uma filha para trás deve ser das coisas mais difíceis de se fazer no mundo. Muitas vezes (demasiadas até) dou por mim a desejar que as coisas fossem diferentes, mas depois não tem como ser! Não quando temos um governo que incentiva os seus jovens a emigrar! Nestes últimos 3 anos perdi, não só os meus sogros, mas também uma mão cheia de amigos, que partiram para vários cantos do mundo. Eu não quero isto! Eu não quero viver num país de velhos, isolada, porque todos aqueles que amo querem ir embora! Eu quero poder ter filhos, sabendo que eles vão poder crescer num país justo onde nunca nada lhes irá faltar! Eu não consigo compreender que um país que vê diariamente os seus jovens a ir embora, decida conscientemente votar na mesma merda, por mais 4 anos! Sinto-me triste, sinto-me revoltada e com vergonha de ser portuguesa... e é isto... 

2 comentários:

  1. Eu começo a pensar, seriamente, na veracidade dos votos. Se o que realmente votamos é o que vai para contagem ou se há algum desvio pelo caminho.
    Tenho os meus pais lá fora a serem explorados que nem cães, tal como eu fui quando estava lá com eles, e voltei para ser explorada à mesma como um cão, novamente, sempre a mesma merda.
    Nem vou falar de dificuldades financeiras, problemas de saúde que não são atendidos/tratados, das faltas de oportunidades, das humilhações dos estágios não remunerados (para não falar novamente da exploração e essa ainda é a pior, que é gratuita!) e vejo duas coisas todo o dia: Ou gente a viver na maior, a comprar tudo na maior, como se não tivessem dificuldades nenhumas na vida e o total oposto, mesmo ao lado, à frente, atrás: rostos sombrios, magros, olheiras, preocupação, desespero... Eu insiro-me no segundo grupo....

    Não sei... Se calhar como não tenho os estudos todos, porque os meus pais não tiveram posses para os pagar e quando pude pagar eu o meu trabalho não permitia estudar, e agora que estou desempregada não há cursos nem possibilidades nenhumas nesta zona em que vivo para o terminar, primeiro porque era muito nova, agora tenho idade a mais (27!) e que mais dizer? Que posso eu fazer?
    Desespero...

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  2. Olá,
    Concordo com tudo aquilo que disseste, mas o que me deixou mais perplexa foi mesmo a percentagem de abstenção porque as pessoas passaram 4 anos a queixar-se e quando chega a altura de se poder votar para melhorar o rumo do país as pessoas abstêm-se. Eu sei que é difícil escolher entre algo mau e algo igualmente mau, mas a verdade é que não devemos só querer a mudança, mas também fazer algo para que ela aconteça, mas na altura de se queixarem toda a gente dá voz às suas insatisfações.
    Acho isto lamentável, lamentável porque desta maneira tão depressa não veremos melhoras e progressos porque os portugueses calam-se e quem cala consente. Assim como tu dizes, o povo português é de facto pobre na carteira mas também de espírito. Enfim
    Beijinhos.

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